Série revive obra icônica dos quadrinhos argentinos
O lançamento da série argentina “O Eternauta” pela Netflix reacendeu o interesse pela obra de Héctor Germán Oesterheld, autor da obra original em que a trama se baseia e um dos maiores nomes dos quadrinhos da América Latina. Escrita entre 1957 e 1959 com ilustrações de Francisco Solano López, a história de Oesterheld é considerada uma das mais influentes dos quadrinhos argentinos. Na trama, um grupo de sobreviventes enfrenta uma nevasca mortal e ameaças alienígenas em um cenário de colapso global.
O destino do escritor, porém, foi ainda mais distópico, num final de vida semelhante ao de Rubens Paiva, retratado no filme “Ainda Estou Aqui”. Na verdade, foi muito pior.
Como era o envolvimento do autor com a política?
A trajetória de Oesterheld foi marcada pelo engajamento político. Nos anos 1960, ele passou a produzir quadrinhos com viés político mais direto, como as biografias de Che Guevara e Evita Perón, em parceria com o cartunista Alberto Breccia. O artista também foi parceiro do escritor numa nova versão de “O Eternauta” lançada na década de 1970, mais explícita em seu conteúdo ideológico, que transformava o protagonista, Juan Salvo, no que Oesterheld chamava de “herói coletivo”.
Ao longo da década de 1970, o escritor tornou-se militante da organização Montoneros, um grupo armado de esquerda que resistia à repressão da ditadura argentina. As quatro filhas do autor — Estela, Diana, Beatriz e Marina — também se envolveram com a militância. Todas desapareceram entre 1976 e 1977, sendo Diana e Marina sequestradas quando estavam grávidas.
Quando ocorreu o desaparecimento de Oesterheld?
O autor foi capturado em abril de 1977. Testemunhos posteriores indicam que ele foi submetido a tortura física e psicológica e teria sido forçado a ver registros das execuções de suas filhas. Acredita-se que Oesterheld tenha sido morto em 1978, mas seu corpo jamais foi localizado. Apenas Beatriz teve velório formal.
Quando os crimes foram reconhecidos?
A repressão à família Oesterheld só teve reconhecimento oficial em 1985, quando um julgamento histórico revelou os crimes cometidos pelo regime militar argentino contra desaparecidos políticos. O caso se tornou símbolo da violência de Estado durante o período mais sombrio da história do país.
A história de Oesterheld daria outra série da Netflix ou um filme para ganhar o Oscar na categoria Internacional.