Cinema vira ameaça à segurança dos EUA
O ex-presidente Donald Trump afirmou que irá ordenar a imposição de uma tarifa de 100% sobre todos os filmes produzidos fora dos Estados Unidos. A medida, segundo ele, visa proteger a indústria cinematográfica americana de incentivos internacionais, que estariam atraindo estúdios e profissionais para rodar em outros países.
“O setor cinematográfico nos Estados Unidos está MORRENDO em ritmo acelerado”, escreveu Trump na rede Truth Social. “Outros países estão oferecendo todos os tipos de incentivos para atrair nossos cineastas e estúdios. Isso é uma ameaça à segurança nacional.”
Trump ainda classificou o movimento como uma campanha de propaganda internacional: “É, além de tudo, uma questão de mensagens e propaganda! Portanto, estou autorizando o Departamento de Comércio e o Representante de Comércio dos Estados Unidos a iniciar imediatamente o processo de instituir uma tarifa de 100% sobre qualquer filme produzido em terras estrangeiras.”
Voight articula apoio federal a Hollywood
A declaração surge após reportagens indicarem que o ator Jon Voight, aliado de Trump, estaria se reunindo com representantes de sindicatos e estúdios para apresentar um plano de “salvação” da indústria do entretenimento. Segundo fontes ouvidas pela imprensa, havia a expectativa de que o governo propusesse um incentivo fiscal federal — há anos solicitado por sindicatos como forma de reter produções no território nacional.
Voight também teria discutido alternativas para frear a migração de produções para países como Reino Unido, Canadá e Austrália, que oferecem vantagens financeiras mais competitivas para filmes e séries de grande porte.
Tarifas ainda sem definição clara
Trump fez o oposto. Não vai incentivar nada e ainda vai taxar quem buscar incentivo no exterior.
Apesar do anúncio, ainda não está claro como a tarifa seria aplicada. A medida enfrenta desafios legais, já que as tarifas atuais dos EUA não incidem sobre serviços — o que inclui produção e distribuição de filmes — e existe uma moratória da Organização Mundial do Comércio sobre bens digitais válida até 2026.
A aplicação da tarifa pode esbarrar em produções híbridas, feitas parcialmente no exterior e parcialmente nos EUA, ou que envolvam apenas pós-produção internacional. Além disso, o plano não menciona produções para TV, que hoje são amplamente realizadas no Canadá por plataformas como Netflix e Max, ou mesmo a disponibilização de filmes estrangeiros nessas plataformas. O brasileiro “Ainda Estou Aqui” está prestes a estrear na Netflix, por exemplo.
O que se pode prever é que a exibição de filmes estrangeiros simplesmente acabaria nos Estados Unidos.
Setor audiovisual pode sofrer retaliações
O novo delírio de taxações de Trump também pode gerar resposta de outros países. Em um caso recente, a China prometeu reduzir a entrada de filmes norte-americanos após Trump impor uma tarifa de 145% a produtos chineses.
Embora Trump alegue que a medida protegeria empregos e reverteria o déficit comercial de Hollywood, dados da Motion Picture Association apontam que o setor audiovisual dos EUA é superavitário: exportou US$ 22,6 bilhões em 2023, com saldo positivo de US$ 15,3 bilhões na balança comercial. Caso os filmes sejam taxados ou barrados em outros países, Trump irá conseguir o oposto do que afirma querer: quebrar Hollywood.
O Representante de Comércio dos EUA (U.S. Trade Representative – USTR) e o Departamento de Comércio (U.S. Department of Commerce) ainda não comentaram o anúncio.
