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Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 serve como uma espécie de prelúdio para a série de filmes Detetive Chinatown. Wang Baoqiang e Haoran Liu estão de volta e desta vez eles interpretam versões ancestrais dos personagens que interpretaram nas outras três produções de sucesso anteriores. Como se trata de uma nova versão ambientada em um período diferente, não é necessário conhecimento prévio sobre a franquia para poder aproveitar o lançamento.
Essa história se passa na São Francisco de 1900. Por conta da Lei de Exclusão Chinesa de 1882, o destino da Chinatown de São Francisco e a independência de seus moradores chineses estavam nas mãos de políticos nada favoráveis à eles. No auge da turbulência, os corpos de Alice (Anastasia Shestakova), filha do congressista republicano Grant (John Cusack), e de um chefe indígena são encontrados assassinados no centro da cidade. O suspeito é Jack, o Estripador (pois é, não faz muito sentido), que a polícia acredita ser Bai Zhenbang (Zhang Xin Cheng), filho do padrinho de Chinatown, Bai Xuanling (Chow Yun-Fat).
Enquanto isso, chega de trem o detetive júnior Qin Fu (Haoran Liu), aprendiz de Sherlock Holmes (Andrew Charles Stokes). Bai Xuanling incumbe Qin de limpar o nome do filho antes que a polícia o capture. Grant pretende usar o assassinato como pretexto para uma audiência iminente que pode resultar na apropriação de Chinatowns em todos os Estados Unidos pelo governo, uma medida que efetivamente expulsaria a população migrante do país. Assim que Qin inicia sua investigação, ele encontra Gui (Wang Baoqiang), o filho sino-indiano (caracterizado como um nativo americano) do chefe assassinado, que possui habilidades quase sobre-humanas. Apesar de não se entenderem muito bem logo de cara, a dupla parte para solucionar o crime e salvar Chinatown.
Os assassinatos também servem de catalisador para que o diretor Chen Sicheng, desta vez em colaboração com o cineasta Dai Mo, explore questões de raça, imigração e identidade nacional. A retórica da Lei de Exclusão Chinesa, por exemplo, usada por Grant e seus aliados políticos, guarda uma semelhança surpreendente com as políticas de imigração e cidadania por direito de nascimento atualmente ameaçadas nos EUA.
Este não seria um filme chinês sem um elenco exagerado e subtramas. Primeiro, temos as negociações políticas entre Bai Xuanling e o Senador Bruce, que parece ser um aliado. Depois, há a revelação de que Bai Zhenbang e Alice eram amantes. De repente, surge a chegada de três oficiais chineses da Imperatriz que buscam capturar dois traidores da China (Bai Zhenbang sendo um deles). Isso leva Bai Zhenbang a tentar contrabandear armas para a Revolução Chinesa. Também existem as subtramas com os sindicatos que odeiam mão de obra chinesa e a de um mágico chinês iniciando uma turnê pela Europa. Sim, é bastante coisa para acompanhar!
Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 é uma comédia pastelão com sequências de ação propositalmente desajeitadas, que parece mais uma novela do que qualquer outra coisa. A pouca ação do filme é agradável e inclui sangue e desmembramento, claro, de maneira cômica. O longa possui sequências aceleradas e piadas espirituosas, mas com sua duração de 2 horas e 20 minutos, o uso excessivo dessas técnicas, combinado com uma mistura confusa de enredos, pode ser cansativo. Além disso, a revelação de quem é o assassino acaba sendo um pouco óbvia.
Apesar de se tratar de uma comédia de mistério e assassinato, o enredo policial não é muito profundo, e as atuações dos personagens não chineses são um pouco inexpressivas – o que não é incomum para atores estrangeiros em produções asiáticas. Chega a ser engraçado como eles não conseguiram encontrar atores dos Estados Unidos suficientes para interpretar esses personagens, então quase todo mundo tem sotaques do mundo todo, menos de alguém de São Francisco. Porém, esse esforço de fazer um filme sobre o encontro do Oriente com o Ocidente, com os brancos falando mandarim e personagens chineses falando inglês é um ponto positivo para mostrar como eram as relações daquela época. E o figurino e o cenário de época são muito bem feitos, em grande parte graças às enormes construções em tamanho real erguidas na província chinesa de Shandong para a produção.
O retorno de Chow Yun-Fat às telas após cinco anos é um acontecimento muito bem-vindo, e ele interpreta o líder comunitário local com todo o charme e carisma esperados, pelos quais é conhecido. John Cusack se encaixa muito bem no tom mais exaltado da comédia chinesa. E a dupla Wang Baoqiang e Haoran Liu tem muita química e suas palhaçadas funcionam muito bem quando estão juntos.
Com um ritmo firme e uma direção ágil, este é um filme maluco de qualidade razoável, ainda que seja um pouco longo demais e termine com uma mensagem patrocinada pelo Partido Comunista Chinês, que é pura propaganda.
Com distribuição da SATO Company, o filme tem estreia prevista nos cinemas brasileiros para o dia 15 de maio.
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