A programação de cinema destaca a volta da franquia de terror “Extermínio”, que fez sucesso nos anos 2000, e a nova produção da Pixar, “Elio”. A animação americana não é o único desenho da semana, que também recebe o primeiro longa derivado do anime “Dan Da Dan”. O circuito limitado ainda exibe diversos dramas europeus e o novo filme do cineasta chinês Jia Zhangke. Segue a lista com tudo que chega nesta quinta (19/6).
EXTERMÍNIO: A EVOLUÇÃO
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A aguardada sequência marca o retorno de Danny Boyle à franquia que redefiniu o subgênero de zumbis no início dos anos 2000. O filme reúne novamente Boyle na direção e Alex Garland no roteiro, retomando a parceria do cultuado “Extermínio” (2002). Passadas décadas desde o surto inicial do vírus da raiva, a narrativa avança o tempo dentro do universo da franquia, explorando os efeitos de longa duração da pandemia e os novos contornos de uma sociedade em ruínas, isolada do resto do mundo.
A história se desenrola em uma Grã-Bretanha abandonada, onde poucos sobreviventes resistem à pandemia zumbi. O foco principal recai sobre Spike (Alfie Williams), menino de 12 anos criado numa comunidade fortificada numa ilha na costa nordeste da Inglaterra, onde a vida foi reduzida a funções essenciais e práticas medievais. Spike vive com os pais, Jamie (Aaron Taylor-Johnson, de “Kraven: O Caçador”) e Isla (Jodie Comer, de “Killing Eve”). Isla está debilitada por uma doença não diagnosticada, tornando-se o centro emocional do drama familiar que se estabelece ao longo do filme.
Quando Spike chega à idade do ritual de passagem local, seu pai decide levá-lo ao continente para caçar infectados, marcando sua entrada simbólica na vida adulta. A viagem não acontece como ele imaginava e, ao voltar, ouve o pai contar mentiras para os moradores, além de ignorar a fogueira que ambos viram à distância. É quando ele descobre a existência de um personagem lendário: o excêntrico Dr. Kerson (Ralph Fiennes), médico que teria sobrevivido sozinho em meio ao caos, considerado louco por muitos moradores. Ao ver o pai trair a mãe com outra mulher da comunidade e a saúde dela piorar, Spike decide que só Dr. Kerson pode ajudá-la. Ele elabora um plano para tirar Isla da ilha sem o conhecimento do pai e, junto da mãe debilitada, embarca numa travessia pelo território devastado e habitado por infectados — inclusive novas variantes mais brutais. A jornada conduz até um templo assustador, repleto de ossos humanos, onde Spike descobre verdades sobre o que restou do mundo pós-apocalíptico.
Danny Boyle retoma sua assinatura visual, investindo em ambientações pastorais que contrastam com a brutalidade dos infectados, enquanto o roteiro de Alex Garland surpreende com respostas para perguntas que a maioria sequer imaginou, a respeito de como seria o mundo se o apocalipse zumbi durasse décadas. Assim como o primeiro “Extermínio” representou uma virada de chave para os filmes de zumbis, ao introduzir os mortos-vivos velozes, o novo conduz o monstro clássico à sua evolução. Único senão: termina com um gancho para o próximo capítulo.
ELIO
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O retorno da Pixar aos personagens originais acontece em meio a uma onda de continuações do estúdio, numa abordagem que alia aventura cósmica e temas familiares, sob direção de Adrian Molina, corroteirista e codiretor de “Viva – A Vida É uma Festa”. O filme apresenta a história de Elio Solis, um garoto solitário que é acidentalmente transportado por uma tecnologia alienígena e confundido com o embaixador da Terra em uma assembleia galáctica.
A trama se desenvolve em torno do menino de 11 anos, filho único de Olga Solis (voz de America Ferrera, a “Ugly Betty”), cientista responsável por um projeto de comunicação com espécies extraterrestres. Em uma tarde comum, Elio ativa um raio trator no laboratório da mãe, sendo capturado por uma nave e levado ao centro de decisões da Coalizão Cósmica, uma entidade interplanetária responsável por avaliar novas espécies candidatas à associação galáctica. Sem preparo ou orientação, o garoto se vê obrigado a representar a humanidade em provas e rituais diplomáticos, enfrentando desafios que vão de enigmas culturais a disputas culinárias interestelares.
O roteiro equilibra elementos de comédia, aventura e amadurecimento pessoal. Elio, tímido e com dificuldades de socialização na escola, precisa usar criatividade, empatia e autenticidade para sobreviver aos testes da Coalizão, ao mesmo tempo em que Olga Solis, na Terra, busca desesperadamente entender o paradeiro do filho e reverter o acidente interplanetário. A narrativa avança entre sequências de ação no espaço, diálogos emocionais e situações absurdas, nas quais Elio se vê obrigado a improvisar para responder expectativas alienígenas sobre os humanos.
Visualmente, o longa expande a paleta cromática e o design de criaturas da Pixar, apresentando alienígenas de formas inusitadas e cenários espaciais que combinam referências a “Star Wars”, “Lilo & Stitch” e animações clássicas do estúdio. O trabalho de arte capricha na diferença de escalas e na psicodelia das locações galácticas, contrastando com o tom mais sóbrio e familiar das cenas ambientadas na casa de Elio e no laboratório da mãe.
O filme retoma temas recorrentes do estúdio: aceitação das diferenças, valor da criatividade, relação de pais e filhos e o desafio de se posicionar diante do desconhecido. Adrian Molina reforça o viés emocional da narrativa, utilizando o amadurecimento de Elio como metáfora para o enfrentamento dos próprios medos e para a valorização da diversidade.
DAN DA DAN: EVIL EYE
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Derivada da série das plataformas Netflix e Crunchyroll, a animação chega aos cinemas na esteira da popularidade crescente dos animes lançados em formato de evento. Dirigido por Fuga Yamashiro e co-dirigido por Abel Góngora, com produção do estúdio Science SARU — responsável pela série —, a adaptação reúne episódios centrais do mangá criado por Yukinobu Tatsu e compõe um longa-metragem que condensa ação sobrenatural, humor e um arsenal visual tipicamente japonês. A proposta acompanha o arco “Olho Maligno”, considerado um dos pontos altos da narrativa original.
A trama transporta para a tela grande a premissa básica da série: os conflitos sobrenaturais de dois adolescentes à margem do cotidiano, Momo Ayase, uma jovem marcada pelo legado espiritual da família, e Ken Takakura (apelidado de Okarun), colega de classe obcecado por teorias alienígenas. De uma aposta inicial entre eles, nasce uma parceria inusitada quando ambos testemunham fenômenos simultâneos e são confrontados por ameaças sobrenaturais que os unem em uma espiral de batalhas contra entidades e maldições. O arco “Evil Eye” mergulha no drama de Jiji, amigo de infância de Momo, possuído por uma entidade demoníaca que amplia o perigo e obriga o grupo a repensar os limites entre bem e mal, realidade e sobrenatural. A relação de terror, autoaceitação e amizade serve de eixo temático e favorece o diálogo com um público jovem, sem abrir mão de elementos tradicionais dos shonens: lutas coreografadas, tensão crescente e humor nonsense.
O design de personagens criado pelo Science SARU destaca-se pelo equilíbrio de tradição e inovação gráfica. Traços ousados, uso de cores vibrantes e efeitos de distorção expressam a escalada do conflito e os momentos de possessão demoníaca. O filme investe em sequências de ação com ritmo dinâmico, integrando CGI a técnicas tradicionais de animação, e explora cenários que vão do ambiente escolar detalhado a espaços de delírio visual, reforçando o contraste do cotidiano e o extraordinário.
No contexto cinematográfico, “Dan Da Dan: Evil Eye” se insere no movimento recente de animes lançados como eventos globais, a exemplo de “Demon Slayer: Mugen Train”. O lançamento especial em cinemas amplia a experiência coletiva e posiciona a obra no cruzamento entre franquias de mangá, TV e cinema, consolidando o papel do Japão como polo inovador da animação pop internacional.
VOCÊ É O UNIVERSO
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O primeiro longa dirigido pelo ucraniano Pavlo Ostrikov é uma ficção científica contemplativa, que foge dos grandes espetáculos e aposta em uma abordagem intimista, com forte carga existencialista e humana. O filme estreou em festivais dedicados ao cinema fantástico e de autor, conquistando elogios por unir uma estética retrofuturista à delicadeza de uma fábula sobre solidão, esperança e o poder do contato humano, mesmo em meio ao vazio sideral.
No centro da trama está Andriy Melnyk, interpretado por Volodymyr Kravchuk, um caminhoneiro espacial ucraniano encarregado de transportar lixo nuclear para além das órbitas conhecidas, em um cenário de pós-destruição da Terra. A bordo de sua nave cargueira, Andriy convive apenas com Maxim, uma inteligência artificial de bordo dublada por Leonid Popadko, que funciona como conselheiro, parceiro de diálogos filosóficos e, muitas vezes, alívio cômico. O cotidiano mecânico e silencioso de Andriy é interrompido quando ele recebe um sinal de rádio vindo de uma estação francesa próxima a Saturno, onde está isolada Catherine, cientista vivida por Daria Plahtiy. Catherine enfrenta não só o esgotamento do suprimento de sua base, mas a perspectiva da extinção solitária, já que ambos acreditam ser possivelmente os últimos humanos vivos.
A relação entre Andriy e Catherine se constrói a distância, por meio de comunicações com delay interestelar, em conversas carregadas de inseguranças, memórias, expectativas e referências culturais de seus países de origem. O filme explora com sensibilidade a construção dessa intimidade improvável, alternando relatos pessoais e pequenos rituais de sobrevivência – como o cuidado de Andriy com uma planta a bordo da nave, símbolo da esperança – e a troca de canções e confidências entre os dois. O roteiro, assinado pelo próprio Ostrikov, utiliza a solidão cósmica como metáfora para o isolamento contemporâneo, tornando a busca por conexão a verdadeira missão dos protagonistas.
No campo visual, “Você é o Universo” aposta em cenografia prática, com naves que remetem à ficção científica dos anos 1970, com painéis analógicos e jardins hidropônicos improvisados. A direção de arte mistura tecnologia desgastada e detalhes artesanais, evitando o CGI exuberante e privilegiando ambientes fechados, repletos de objetos pessoais que remetem à Terra. Para completar, o roteiro opta por temas filosóficos, romance e reflexão social, em vez de perigos espaciais. Vencedor de 10 prêmios internacionais, o longa também chama atenção por ter sido rodado em Kiev durante o contexto do conflito entre Ucrânia e Rússia, sem fazer referência explícita ao conflito.
STELLA: VÍTIMA E CULPADA
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A cinebiografia dirigida pelo alemão Kilian Riedhof (“Sua Última Corrida”) traz à tona a trajetória polêmica de Stella Goldschlag, personagem real cuja vida se entrelaçou de modo trágico e contraditório ao regime nazista. O longa é fruto de coprodução de Alemanha, Áustria, Suíça e Reino Unido, e foi amplamente debatido em festivais europeus pela abordagem direta e complexa de um tema historicamente sensível.
O filme alterna dois momentos principais: a Berlim dos anos 1940, em meio à 2ª Guerra Mundial, e o reencontro da protagonista com um jornalista britânico nos anos 1970. Stella (Paula Beer) é apresentada como uma jovem judia que, após ser presa e submetida a tortura brutal pela Gestapo, aceita colaborar como delatora, denunciando judeus escondidos para tentar salvar a própria família da deportação. O roteiro baseia-se em extensas pesquisas históricas e depoimentos reais, recusando interpretações simplistas e construindo um retrato ambíguo da protagonista, que transita entre vítima das circunstâncias extremas e agente de atos condenáveis.
A direção de arte recria com rigor o ambiente de Berlim sob ocupação, alternando clubes de jazz clandestinos, espaços de convivência judaica e as salas de interrogatório da Gestapo. O contraste da vitalidade do passado com o peso da colaboração é enfatizado tanto pelo figurino quanto pela trilha sonora, que incorpora temas do jazz banido pelos nazistas. O filme dedica atenção ao sofrimento físico e emocional de Stella, à sua transformação diante do desespero e ao gradual distanciamento de valores que sustentavam sua identidade.
Na moldura dos anos 1970, Stella, agora livre e marcada pelos acontecimentos, é confrontada por um jornalista em busca de respostas sobre remorso, responsabilidade e perdão. Essas sequências dialogam com a memória coletiva do pós-guerra e com os debates contemporâneos sobre colaboração, culpa histórica e reabilitação social. Entre as duas fases, Paula Beer (“Undine”) constrói uma performance marcada por contenção, explorando as nuances da culpa, autoproteção e solidão, num convite à reflexão sobre a fragilidade da moral em contextos extremos e sobre os riscos do julgamento sumário de figuras históricas marcadas por escolhas impossíveis.
A ODISSEIA DE ENÉIAS
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O drama italiano recebeu aplausos prolongados no Festival de Veneza de 2023, onde concorreu ao Leão de Ouro. Dirigido por Pietro Castellitto (“Duas Famílias”) e produzido pelo cineasta Luca Guadagnino (“Rivais”), o longa revisita o mito de Eneias, príncipe guerreiro troiano que sobreviveu à Guerra de Troia para dar origem à linhagem que fundou Roma. Passado em pleno século 21, o filme adapta a epopeia de Virgílio para o universo do crime, e traz o próprio Pietro Castellitto como protagonista, contracenando com seu pai, o veterano Sergio Castellitto (“Não Se Mova”).
No centro da trama estão Enéias (Castellitto) e Valentino (o estreante Giorgio Quarzo Guarascio), amigos de juventude que ganham a vida nos submundos de Roma. Em um cenário de decadência moral e festas hedonistas, eles se envolvem com tráfico de drogas a mando de um poderoso criminoso local. Castellitto constrói o enredo em torno da busca de Enéias por vitalidade num mundo “morto e decadente” – uma clara alusão à jornada do herói que carrega seu nome. Enquanto trafegam pelas noites romanas, cheias de música eletrônica e perigo, Enéias lida com um pai melancólico (papel de Sergio Castellitto) e uma mãe indiferente, ao mesmo tempo em que sente nascer um romance com a misteriosa Eva (vivida por Benedetta Porcaroli, de “Baby”). O roteiro evita simplificações: dilemas familiares, violência latente e um “oceano de símbolos” permeiam a jornada desses amigos, que se veem além das fronteiras da moralidade, embarcando em uma aventura tanto criminosa quanto de descoberta íntima.
Como roteirista, diretor e ator principal, Pietro Castellitto demonstra ambição ao seguir os passos de sua aclamada estreia, “Duas Famílias” (Melhor Roteiro na mostra Horizontes de Veneza 2020), explorando o choque entre a juventude apática e a geração anterior que testemunhou dias diferentes. Enquanto Enéias e Valentino traficam e festejam sem propósito aparente, há subjacente a busca por algo transcendental – “sentir-se vivo”, como sugere a narrativa. Essa camada simbólica aproxima o filme de uma parábola: Enéias busca seu destino em um cenário corrompido, assim como o herói troiano vagava em meio a ruínas de um mundo em colapso. O resultado é um drama de atmosfera inquietante, em que o estilo visual arrojado – câmera nervosa, montagem colagem de momentos cotidianos – dialoga com a mensagem sobre desilusão e vitalidade. Mesmo nos momentos de violência e tensão, Castellitto injeta humor ácido e referências pop, compondo um mosaico peculiar da geração millennial italiana.
TRÊS AMIGAS
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A comédia dramática de costumes foi exibida em festivais de prestígio na França e debutou no Brasil no Festival Varilux de Cinema Francês. A produção investiga, com ironia sutil e delicadeza, os paradoxos da amizade e do desejo a partir de um triângulo afetivo que envolve três mulheres de diferentes perfis e trajetórias, interpretadas por Camille Cottin (“A Noite das Bruxas”), Sara Forestier (“De Cabeça Erguida”) e India Hair (“A Favorita do Rei”).
A narrativa se estrutura a partir da decisão de Joan (Sara Forestier) de romper com o companheiro Victor após perceber que não o ama mais. O desaparecimento inesperado de Victor desencadeia uma rede de apoios e revelações entre Joan e suas amigas Alice (India Hair), que preserva um casamento estável, mas insatisfatório, e Rebecca (Camille Cottin), viúva que esconde um relacionamento com Éric, parceiro de Alice. À medida que as circunstâncias se apresentam, as três confidentes passam a navegar por sentimentos contraditórios – lealdade e traição, amor e comodismo, medo da solidão e desejo de liberdade.
Desamor e infidelidade têm sido temas constantes no cinema do diretor Emmanuel Mouret, que assina filmes como “Amores Infiéis” (2020) e “Crônica de uma Relação Passageira” (2022). Ele estrutura sua narrativa em cenas densas de diálogo, onde as nuances emocionais são tão importantes quanto os fatos. Com isso, busca evitar maniqueísmos, apresentando as protagonistas como mulheres reais, cujas escolhas são atravessadas por dúvidas, tentações e renúncias. O resultado é uma crônica agridoce da amizade feminina e dos dilemas afetivos do mundo contemporâneo.
LEVADOS PELAS MARÉS
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O novo filme de Jia Zhangke, um dos autores mais influentes da cinematografia chinesa contemporânea, celebra sua linguagem híbrida, que costura documentário e ficção em uma abordagem de experimentação formal. A produção se destaca pela estrutura que abrange duas décadas de transformações sociais e urbanas, articulando imagens de arquivo, registros não aproveitados de filmes anteriores e cenas originais rodadas em diferentes suportes e épocas.
A narrativa acompanha a jornada de Qiao Qiao (Zhao Tao), jovem de origem modesta em Datong, cidade industrial do norte da China. A personagem é apresentada como dançarina, cantora de bar e trabalhadora multifacetada, conectada à vida local e aos conflitos geracionais. Seu relacionamento com Bin (Li Zhubin) — gerente ambicioso em busca de ascensão — serve como fio condutor para o drama íntimo e o comentário social. A separação do casal impulsiona Qiao Qiao a uma busca que atravessa regiões marcadas por processos de modernização acelerada, deslocamentos populacionais e destruição de espaços históricos. O filme faz uso de imagens captadas ao longo de 22 anos, entre 2001 e a década de 2020, materializando a passagem do tempo tanto nos personagens quanto no ambiente físico.
A montagem adota elipses e saltos temporais, unindo cenas de diferentes períodos em um fluxo de memória e reencontro. A fotografia alterna o digital granulado do início dos anos 2000 — típico dos primeiros trabalhos de Jia — com planos contemporâneos de alta definição, acentuando a sensação de perda, transformação e nostalgia. Trilha sonora e sons ambiente evocam tanto a cultura pop chinesa quanto influências ocidentais, refletindo o impacto da globalização nas cidades do interior.
O contexto cinematográfico é de revisão de temas caros ao diretor: o deslocamento, o impacto da modernização, a resiliência afetiva e as consequências dos grandes projetos de infraestrutura chineses (como a construção da Represa das Três Gargantas). O filme dialoga com obras anteriores de Jia, retomando personagens, locações e dilemas vistos em “Plataforma” (2000), “Em Busca da Vida” (2006) e “As Montanhas se Separam” (2015). A presença recorrente de Zhao Tao, atriz e parceira do diretor, confere unidade à abordagem sensível de figuras femininas em meio a mudanças históricas.
A crítica internacional reconheceu “Levados pelas Marés” como síntese do percurso de Jia Zhangke, um marco experimental e epílogo das investigações temáticas do cineasta, consolidando seu papel como cronista da China moderna. A estreia nacional é acompanhado pelo relançamento do documentário “Jia Zhangke, um Homem de Fenyang” (2014), de Walter Salles (“Ainda Estou Aqui”), que destaca a relevância do cineasta chinês para o cinema mundial.
ANDY WARHOL – UM SONHO AMERICANO
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O documentário oferece uma abordagem inédita à trajetória do artista que redefiniu a cultura visual e a arte pop no século 20. Diferentemente das biografias tradicionais, o filme se dedica a investigar as raízes eslovacas de Andy Warhol, destacando a influência da herança familiar e religiosa na formação de sua personalidade e obra. Com acesso privilegiado a arquivos, depoimentos de familiares e registros históricos inéditos, o longa retrata não apenas o ícone pop, mas também o homem Andrej Warhola, filho de imigrantes rutenos estabelecidos em Pittsburgh.
A narrativa do documentário alterna entre a infância de Warhol, marcada pelo convívio com a mãe Julia Warhola e pela forte religiosidade familiar, e a ascensão meteórica do artista à condição de celebridade internacional. O roteiro contrapõe a simplicidade das origens ao glamour e à efervescência das festas na Factory, ateliê nova-iorquino que se tornou símbolo da vanguarda cultural dos anos 1960. O filme explora o modo como Warhol incorporou elementos de sua vivência eslovaca à pop art, estabelecendo conexões simbólicas entre a tradição religiosa, o culto à imagem e o interesse por ícones da mídia.
O diretor Ľubomír Slivka conduz entrevistas com familiares e estudiosos renomados, que revelam dimensões pouco conhecidas de Warhol: sua relação de devoção à mãe, o apego às celebrações católicas de rito oriental e as marcas do isolamento vivido durante a infância e adolescência. O documentário também visita Medzilaborce, cidade onde está o Museu Andy Warhol, apresentando registros de exposições e eventos que celebram o legado do artista no país de seus ancestrais.
ADO SPECIAL LIVE “SHINZOU” IN CINEMA
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Sem nunca ter se apresentado no Brasil, o fenômeno musical Ado estreia diante do público brasileiro nas telas de cinema. Ado despontou como um dos nomes mais revolucionários da música pop japonesa: aos 17 anos, estourou nas paradas com o hit “Usseewa” (2020), seguiu dominando charts com canções como “Gira Gira” e ganhou projeção internacional ao emprestar a voz às canções da personagem Uta em “One Piece Film: Red” (2022). Agora, sua aura enigmática – Ado notoriamente preserva sua identidade visual nos shows – encontra no cinema um novo palco, ampliando as fronteiras entre o show musical e a arte audiovisual.
“Ado Special Live ‘Shinzou’ in Cinema” é o registro da histórica apresentação ao vivo da jovem cantora japonesa, realizada no Estádio Nacional do Japão em abril de 2024. Celebrada como a primeira artista solo feminina a lotar esse estádio – 140 mil fãs em duas noites –, Ado transformou seu show “Shinzou” (que significa “coração” em japonês) em uma experiência história, que agora ganha versão remasterizada e imersiva nos cinemas.
Dirigido por Ruriko Kano, o filme-concerto convida o público a reviver a performance arrebatadora em toda sua grandiosidade, com direito a áudio aprimorado em surround 5.1 e efeitos visuais projetados especialmente para a tela grande. Sem seguir a estrutura tradicional de documentário, o longa mergulha diretamente no espetáculo. Mas, em determinados números, a montagem incorpora animações e efeitos gráficos que dialogam com a persona virtual de Ado, quase como videoclipes integrados à apresentação ao vivo.