A semana traz estreias de peso no streaming, lideradas por “Ainda Estou Aqui”, primeiro filme brasileiro a conquistar o Oscar. Além do drama histórico estrelado por Fernanda Torres na Globoplay, outras produções do Oscar 2025, como “Emilia Pérez” e “Conclave”, também chegam para locação digital. Entre as séries, a lista destaca produções estreladas por Kevin Bacon, Michelle Williams, Isis Valverde e Willa Fizgerald e nada menos que quatro animes inéditos. A lista completa tem 20 títulos, divididos igualmente entre séries e filmes, como dicas do que assistir em meio à avalanche de conteúdos previstos para chegar até domingo (6/4) nas principais plataformas.
SÉRIES
CAÇADOR DE DEMÔNIOS | PRIME VIDEO
A série de terror e ação traz Kevin Bacon (“MaXXXine”) como Hub Halloran, um caçador de recompensas que ganha uma segunda chance ao ser retirado do inferno pelo próprio Diabo. Transformado em um ser imortal, ele recebe uma missão que definirá seu destino: encontrar e capturar demônios que escaparam para o mundo dos vivos, escondendo-se entre humanos.
A tarefa é clara — caçar e devolver essas criaturas à prisão infernal —, mas o risco é alto. Se falhar, Hub será arrastado de volta ao sofrimento eterno. Enquanto persegue os fugitivos, ele também precisa lidar com conflitos familiares, incluindo a relação abalada com sua esposa Maryanne, interpretada por Jennifer Nettles (“The Righteous Gemstones”), e a tentativa de reconexão com o filho adolescente, vivido por Maxwell Jenkins (“Lost in Space”).
Criada por Grainger David, a produção tem Erik Oleson (“Carnival Row”, “Demolidor”) como showrunner e é desenvolvida pela Blumhouse Television, especializada em narrativas sombrias. Também fazem parte do elenco Jolene Purdy (“Orange Is the New Black”), como Midge — a representante do Diabo encarregada de supervisionar Hub —, além de Damon Herriman (“Justified”) e Beth Grant (“Onde os Fracos Não Têm Vez”).
PULSE | NETFLIX
Ambientada em um hospital de Miami prestes a enfrentar um furacão de categoria 3, o drama acompanha a rotina exaustiva da equipe médica da emergência, pressionada por um aumento repentino no número de pacientes em estado crítico. A tensão cresce ainda mais quando o hospital entra em lockdown, forçando decisões rápidas e impactantes em meio ao caos.
No centro da trama está a Dra. Danny Simms, interpretada por Willa Fitzgerald (“Pânico: A Série”), uma residente do terceiro ano que assume a chefia do setor após a suspensão de seu envolvimento romântico, o Dr. Xander Phillips, papel de Colin Woodell (“Como Vender a Lua”). O colapso emocional e estrutural do hospital serve de pano de fundo para os conflitos interpessoais e dilemas médicos que se desenrolam ao longo da temporada.
Criada por Zoe Robyn (“Hawaii Five-0”) com Carlton Cuse (“Lost”, “Bates Motel”) como co-showrunner e produtor executivo, a produção segue a fórmula clássica dos dramas médicos, especialmente “Grey’s Anatomy”, apostando na combinação de romance, adrenalina e dilemas éticos para construir sua narrativa.
O elenco reúne nomes como Jack Bannon (“Pennyworth”), Jessie T. Usher (“The Boys”), Chelsea Muirhead (“Warrior”), Daniela Nieves (“Vampire Academy”), Jessy Yates (“Law & Order: SVU”), Justina Machado (“One Day at a Time”), Néstor Carbonell (“Bates Motel”) e Jessica Rothe (“A Morte te Dá Parabéns”).
DEVIL MAY CRY | NETFLIX
Inspirada no clássico game da Capcom lançado em 2001, a nova série animada acompanha Dante, um caçador de demônios solitário encarregado de impedir que forças malignas abram um portal entre os mundos humano e demoníaco. Sem ter plena consciência do que está em jogo, o personagem se vê no centro de uma batalha cujo desfecho pode selar o destino de ambos os reinos.
A narrativa apresenta personagens conhecidos dos fãs da franquia, incluindo Lady, uma soldado que vê Dante como uma ameaça devido à sua herança demoníaca, e Vergil, o irmão gêmeo de Dante, cuja relação com o protagonista promete revelar segredos explosivos. Além disso, o antagonista White Rabbit lidera forças demoníacas que ameaçam a destruição da cidade, intensificando os conflitos.
A produção é conduzida por Adi Shankar, responsável por “Castlevania”, que atua como showrunner e produtor executivo. Ao seu lado estão Hideaki Itsuno, da Capcom, e Seung Wook Lee, do estúdio sul-coreano Studio Mir, conhecido por “A Lenda de Korra”.
O roteiro é assinado por Alex Larsen (“Yasyje”) e a trilha sonora aposta no nu metal, com faixas inéditas de bandas como Limp Bizkit, Papa Roach e Evanescence, reforçando o clima sombrio e agressivo da narrativa.
THE DINNER TABLE DETECTIVE | PRIME VIDEO
O anime adapta os romances de mistério escritos por Tokuya Higashigawa. A trama acompanha Reiko Hōshō, uma herdeira rica que atua como detetive novata no Departamento de Polícia de Kunitachi. Apesar de sua posição, ela frequentemente recorre ao seu mordomo perspicaz, Kageyama, para solucionar casos complexos.
A cada episódio, Reiko se depara com crimes aparentemente insolúveis, como assassinatos em quartos trancados, enigmas envolvendo objetos desaparecidos e casos de identidades secretas. Após coletar pistas e enfrentar dificuldades nas investigações, ela compartilha os detalhes com Kageyama durante o jantar. Com sua perspicácia e conhecimento aguçado, o mordomo aponta inconsistências e oferece insights que levam à resolução dos mistérios. Essa parceria destaca a complementaridade entre a intuição de Reiko e a lógica afiada de Kageyama, resultando em soluções surpreendentes para os casos apresentados.
A dinâmica dos personagens ainda conta com Kyoichiro Kazamatsuri, chefe da Unidade de Crimes Graves do Departamento de Polícia de Kunitachi e superior direto de Reiko Hōshō. Herdeiro da renomada empresa Kazamatsuri Motors, ele é conhecido por sua personalidade extravagante e por apresentar teorias de investigação frequentemente absurdas. Apesar de suas deduções questionáveis, Kazamatsuri ocasionalmente fornece insights que, inadvertidamente, auxiliam na resolução dos casos, especialmente quando combinados com as análises perspicazes de Kageyama, o mordomo de Reiko. O relacionamento do trio fornece um elemento cômico à narrativa, contrastando a inexperiência de Reiko, a excentricidade de Kazamatsuri e a sagacidade de Kageyama
Produzida pelo estúdio Madhouse, a série conta com a direção de Mitsuyuki Masuhara (“Death Note”) e roteiros de Mariko Kunisawa (“O Berserker da Gula”).
FROM OLD COUNTRY BUMPKIN TO MASTER SWORDSMAN | PRIME VIDEO
Adaptação da light novel homônima de Shigeru Sagazaki, o anime acompanha Beryl Gardinant, um autoproclamado “velho humilde” que leva uma vida tranquila como instrutor de espada em seu dojo em uma aldeia remota. Na juventude, Beryl sonhava em alcançar a glória como mestre espadachim, mas esses dias ficaram no passado. Até que a sua rotina é interrompida quando Allucia Citrus, uma de suas ex-alunas e agora uma cavaleira de renome, retorna com uma proposta inesperada: que ele se torne instrutor especial dos cavaleiros da Ordem Liberion na capital. Surpreso com o pedido e relutante em deixar sua vida pacata, Beryl aceita o convite ao perceber a sinceridade e o respeito de Allucia por sua orientação passada.
Ao chegar à capital, Beryl reencontra outros ex-alunos que alcançaram posições de destaque, todos ansiosos por sua orientação. Enquanto enfrenta os desafios de seu novo papel, ele questiona se ainda é necessário na vida de seus discípulos e se conseguirá se adaptar ao ambiente agitado da cidade. A presença de Allucia serve como um lembrete constante do impacto que teve na formação de seus alunos e o motiva a abraçar essa nova fase.
Produzida pelos estúdios Passione e Hayabusa Film, a série é dirigida por Akio Kazumi (“Loner Life in Another World”), com roteiros de Kunihiko Okada (“The Eminence in Shadow”) e trilha sonora composta por Yasuharu Takanashi (“Bastard!!”).
JURASSIC WORLD: TEORIA DO CAOS 3 | NETFLIX
A 3ª temporada de “Jurassic World: Teoria do Caos” dá continuidade às aventuras dos “Seis de Nublar”, um grupo de jovens que, após os eventos em Isla Nublar, se reencontra para enfrentar uma nova ameaça que coloca em risco tanto os dinossauros quanto a humanidade. A narrativa se aprofunda nas relações interpessoais dos protagonistas, explorando os desafios de amadurecer em um mundo onde humanos e dinossauros coexistem de forma tensa.
Os episódios introduzem novas espécies de dinossauros e apresentam uma conspiração global que os protagonistas devem desvendar. Combinando ação e mistério, a trama mantém o ritmo acelerado característico dos desenhos produzidos pela DreamWorks Animation Television, que servem como sequência direta de “Jurassic World: Acampamento Jurássico”.
>> SEXTA
MARIA E O CANGAÇO | DISNEY+
A produção da Disney+ apresenta uma releitura da trajetória de Maria Bonita, primeira mulher a integrar o cangaço. Ao retratar sua vivência ao lado de Lampião, a narrativa aposta na perspectiva feminina e nos dilemas enfrentados pelas mulheres do bando de cangaceiros mais famosos da História, com destaque para a tensão entre a maternidade e a vida nômade imposta pela fuga constante.
A trama acompanha o conflito íntimo de Maria ao lidar com o costume de entregar os filhos à adoção logo após o nascimento — prática recorrente entre as cangaceiras para preservar a mobilidade do grupo e evitar riscos. Nesse contexto, a série articula temas como resistência, sobrevivência e desejo de autonomia, explorando a força da protagonista em um ambiente historicamente dominado por figuras masculinas.
Estrelada por Isis Valverde (“Faroeste Caboclo”) como Maria Bonita e Julio Andrade (“Sob Pressão”) como Virgulino Lampião, a produção retrata o relacionamento do casal a partir de um viés mais íntimo e dramático, sem ignorar os elementos tradicionais do gênero, como emboscadas, tiroteios e perseguições. A direção é de Sérgio Machado (“Rio do Desejo”), que também assina o roteiro com Armando Praça (“Betinho: No Fio da Navalha”).
MORRENDO POR SEXO | DISNEY+
Michelle Williams retorna às produções de FX, que já renderem um Emmy por “Fosse/Verdon”, como protagonista de uma minissérie dramática baseada em fatos reais. Inspirada num podcast, a produção acompanha a trajetória de uma mulher diagnosticada com câncer de mama metastático que, diante do diagnóstico terminal, decide abandonar o casamento e explorar uma nova fase da vida marcada pela liberdade sexual e pelo reencontro consigo mesma.
Dividida entre encontros casuais e reflexões profundas, sua jornada é compartilhada com a melhor amiga, que a acompanha ao longo desse processo íntimo de reconciliação com o desejo, o corpo e a autonomia. A série alterna momentos de leveza e sensibilidade ao abordar a forma como mulheres lidam com o amor, o sexo e a morte em meio à vulnerabilidade física e emocional.
Com roteiro de Liz Meriwether (“The Dropout”) e Kim Rosenstock (“Only Murders in the Building”), e direção de Leslye Headland (“The Acolyte”), a minissérie tem oito episódios e é uma realização da 20th Television.
CARMA | NETFLIX
a nova série sul-coreana de suspense criminal gira em torno de seis pessoas que tem as vidas entrelaçadas de forma trágica após um acidente fatídico. Esse incidente inicial dá início a uma teia de eventos guiados por forças aparentemente fora do controle dos envolvidos, prendendo cada personagem em um ciclo sombrio de consequências inevitáveis.
Mok Gyeok-nam presencia um acidente misterioso e faz um acordo irreversível em busca de vantagem, sem imaginar as terríveis repercussões de seu ato. Joo Yeon é uma médica assombrada por traumas de infância que vê seu passado ressurgir ao reencontrar inesperadamente a pessoa responsável por seu sofrimento antigo. Gil-ryong, após ser demitido injustamente, recebe uma oferta tentadora envolvendo uma grande soma de dinheiro – proposta que o coloca em grave perigo. Há também um homem afundado em dívidas que, após apostar tudo em criptomoedas com dinheiro emprestado de agiotas, vê seus sonhos ruírem e se desespera para mudar de vida. Paralelamente, um conceituado médico de Gangnam vive um romance com uma mulher tão encantadora quanto perigosa, sem saber no que está se metendo. Conforme os destinos desses seis estranhos colidem, cada escolha os puxa mais fundo em uma espiral de infortúnios, sugerindo que ninguém consegue escapar do próprio carma ou controlar plenamente o rumo de sua sorte.
A produção questiona até onde as pessoas são capazes de ir para tentar escapar de uma maré de má sorte – ou se estão simplesmente destinadas a afundar nela. Ao investir em uma narrativa coral e centrada na ideia de destino inescapável, a narrativa traça paralelos com longas como “Crash: No Limite” (2004) e “Babel” (2006), mas com ênfase no suspense criminal e em dilemas morais enraizados na cultura coreana.
Baseada no webtoon homônimo criado por Choi Hee-seon e lançado em 2019 pela Kakao Webtoon, a adaptação é conduzida por Lee Il-hyung, diretor e roteirista conhecido por “Um Promotor Violento” (2016). A série reúne Park Hae-soo (“Round 6”), Shin Min-a (“Hometown Cha-Cha-Cha”), Lee Hee-joon (“Em Ruínas”), Kim Sung-kyun (“Em Movimento”), Lee Kwang-soo (“Tudo Bem, Isso é Amor”) e Gong Seung-yeon (“Equipe de Emergência”).
>> DOMINGO
LAZARUS | MAX
O mais recente anime de Shinichirō Watanabe, conhecido pelo clássico “Cowboy Bebop”, apresenta um futuro utópico transformado em pesadelo quando se revela que Hapuna, uma droga milagrosa superpopular, tem efeitos colaterais letais após três anos de uso. Para conter a crise iminente, forma-se a força-tarefa “Lazarus”, composta por cinco agentes de elite encarregados de localizar o cientista desaparecido que desenvolveu a droga e forçá-lo a desenvolver uma cura antes que o prazo fatal se cumpra. A narrativa explora temas como ética científica e sobrevivência em um mundo à beira do colapso.
Produzida pelo estúdio MAPPA, responsável por “Jujutsu Kaisen” e “Chainsaw Man”, “Lazarus” combina elementos de ficção científica, ação e mistério. A obra conta com a colaboração de Chad Stahelski, diretor da franquia “John Wick”, na coreografia das sequências de ação. A trilha sonora é assinada pelo saxofonista Kamasi Washington, juntamente com os produtores e DJs Bonobo e Floating Points, que lançaram faixas antecipadas, incluindo “Vortex” de Washington, tema principal da série.
FILMES
>> TERÇA
EMILIA PÉREZ | VOD*
O filme, que foi de favorito ao Oscar 2025 a pária na competição, acompanha um líder do cartel mexicano que decide passar por uma transição de gênero para fugir da polícia. Após a transição, ela adota a identidade de Emilia Perez e começa uma nova fase de sua vida. No entanto, a transformação traz desafios inesperados, especialmente em relação ao seu passado criminoso e às consequências de suas ações. Tudo isso, em meio a números de dança e cantoria – o filme é um musical.
O longa do cineasta Jacques Audiard (“O Profeta”) encantou a crítica americana logo em sua première mundial, quando venceu o Prêmio do Júri e um troféu de Melhor Atriz para suas quatro intérpretes principais no Festival de Cannes deste ano – Zoë Saldaña (“Guardiões da Galáxia”), Selena Gomez (“Only Murders in the Building”), Karla Sofía Gascón (“Rebelde”) e Adriana Paz (“Meu Amigo Lutcha”). Entretanto, a imprensa mexicana nunca aceitou a bajulação, acusando o filme de ser ofensivo. Rodado em Paris por um diretor francês, com atrizes americanas e uma protagonista espanhola, “Emilia Pérez” foi acusado de amontoar clichês e preconceitos sobre o México. Grupos LGBTQIA+ também acusaram a narrativa de ser homofóbica, ao reduzir a questão de gênero a uma iniciativa estética e replicar estereótipos.
A crítica ignorou as queixas e “Emilia Pérez” venceu quatro Globos de Ouro, incluindo Melhor Filme de Comédia ou Musical. Em seguida, liderou as indicações ao Oscar 2025 com 13 nomeações, entre elas um feito histórico de Karla Sofía Gascón, que se tornou a primeira transexual indicada ao Oscar de Melhor Atriz. A Netflix, que adquiriu a obra em Cannes, colocou Gascón no centro da campanha para a premiação, ao custo de rebaixar Zoë Saldaña à Atriz Coadjuvante do longa. O esforço promocional parecia encaminhar uma grande consagração, até que tudo desabou.
Em meio aos protestos mexicanos, Gascón acusou a equipe de Fernanda Torres, sua concorrente no Oscar, de tentar prejudicá-la com postagens de ódio, apesar de declarações de solidariedade e elogios da brasileira. A polêmica despertou a curiosidade sobre o Twitter da atriz, que se revelou uma Caixa de Pandora. Postagens antigas, trazidas à tona por uma jornalista canadense, chocaram o público – e os eleitores do Oscar – com declarações islamofóbicas e racistas. Entre os comentários atribuídos a Gascón, ela chama muçulmanos de “retardados” e o Islã de “profundamente repugnante”, se refere a George Floyd, cujo assassinato foi o estopim do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), como “um vigarista viciado em drogas” e ironiza a diversidade do Oscar, descrevendo-o como “um festival afro-coreano”.
Os bombeiros da Netflix tentaram afastar Gascón de cena, mas ela deu uma entrevista para a CNN por conta própria, novamente culpando uma campanha de ódio pelas revelações de seu passado polêmico. Como resultado, foi cortada da campanha, mas o estrago foi feito. Sem o hype, “Emilia Pérez” só rendeu um Oscar de Melhor Canção e outro para Zoë Saldaña, que podia ser Melhor Atriz, mas acabou como Melhor Atriz Coadjuvante. Em compensação, a produção venceu seis troféus do César (o Oscar francês), incluindo Melhor Filme do ano.
CONCLAVE | VOD*
O thriller político de Edward Berger (“Nada de Novo no Front”) explora a tensão e os jogos de poder nos bastidores do Vaticano. O filme acompanha o Cardeal Thomas Lawrence, interpretado por Ralph Fiennes (“O Menu”), que enfrenta dilemas espirituais e políticos enquanto organiza o conclave que elegerá o novo Papa após a morte repentina do pontífice anterior. Originalmente italiano no livro de Robert Harris, o personagem é transformado em um inglês na adaptação do diretor Edward Berger (“Nada de Novo no Front”), um detalhe que acrescenta uma camada sutil de complexidade às dinâmicas internas da história.
A narrativa apresenta uma rede de intrigas em que os cardeais, mantendo aparências de cordialidade, disputam discretamente a posição mais alta da Igreja. Stanley Tucci (“Jogos Vorazes”) interpreta Bellini, um cardeal liberal; Sergio Castellitto (“À Espera de Milagres”) é Tedesco, um reacionário com atitudes racistas; John Lithgow (“The Crown”) vive Tremblay, cuja fachada conciliadora esconde intenções ambíguas; Lucian Msamati (“Game of Thrones”) dá vida a Adeyemi, forte e assertivo; e Carlos Diehz (“La Casa de Papel”) assume o papel de Benitez, um misterioso cardeal recém-nomeado. O elenco é complementado por Isabella Rossellini (“Joias Brutas”) como Irmã Agnes, confidente do Papa falecido, que rouba a cena com sua presença perspicaz e enigmática.
Com a morte do Papa, Lawrence busca equilibrar sua crise de fé pessoal com o dever de liderar o processo de sucessão. Sua intenção de renunciar é frustrada quando o Papa morre sem aceitar seu pedido e sem revelar segredos que poderiam comprometer a integridade de alguns candidatos. Isso cria um ambiente de incerteza e perigo, enquanto Lawrence tenta apoiar Bellini, mas percebe, com crescente desconforto, que ele próprio está sendo considerado para o papado. A cada rodada de votos, as tensões aumentam, transformando o conclave em uma disputa cada vez mais acirrada e imprevisível.
Berger orquestra cenas de alta tensão com maestria, criando uma atmosfera carregada e visualmente impactante. A cinematografia de Stéphane Fontaine e o design de produção de Suzie Davies oferecem imagens impressionantes, misturando simbolismo e realismo. Momentos de introspecção e angústia são capturados com intensidade, especialmente na atuação de Fiennes, cuja expressão melancólica traduz o conflito interno de Lawrence.
Embora apresentado como um suspense, “Conclave” também levanta questões éticas e religiosas sobre poder, fé e corrupção. O roteiro de Peter Straughan (“O Espião que Sabia Demais”) venceu o Globo de Ouro e o Oscar.
SETEMBRO 5 | VOD*
O drama recria um dos eventos mais chocantes e trágicos da história olímpica: a crise dos reféns nas Olimpíadas de Munique de 1972. Embora a história do ataque à delegação olímpica de Israel por terroristas pró-Palestina tenha sido retratada em vários documentários e filmes, este novo docudrama é o primeiro a apresentar o massacre de Munique por uma perspectiva jornalística, acompanhando a ação sob o ponto de vista da equipe de TV da ABC Sports, que cobria os jogos durante o ataque. A trama examina as implicações éticas e morais de transmitir terroristas com reféns ao vivo, explorando o delicado equilíbrio entre relatar as notícias e se tornar parte delas. A história impactante foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original.
O elenco destaca Peter Sarsgaard (“Acima de Qualquer Suspeita”), John Magaro (“Os Muitos Santos de Newark”) e Ben Chaplin (“The Nevers”) como três produtores de notícias da ABC Sports, que trabalharam nos bastidores da cobertura. Enquanto a rede ABC preferia que o departamento de notícias lidasse com as reportagens, o trio lutou para continuar com sua cobertura enquanto a crise se desenrolava em tempo real, a apenas um prédio de distância de sua localização. Mal sabiam eles que o mundo inteiro estaria assistindo, incluindo os terroristas.
Dirigido e coescrito pelo cineasta suíço Tim Fehlbaum, conhecido pelas sci-fis pós-apocalípicas “Um Inferno” (2011) e “O Refúgio” (2021), “5 de Setembro” também apresenta imagens de arquivo da transmissão real da ABC, incluindo cenas com o âncora Jim McKay.
A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO
Fazer cinema rendeu pena de oito anos de prisão e chibatadas para o diretor Mohammad Rasoulof, vencedor do Festival de Berlim com “Não Há Mal Algum” (2021). Por isso, ele precisou fugir do Irã de forma clandestina, enfrentando uma jornada de 28 dias a pé e muitos perigos para levar “A Semente do Fruto Sagrado” ao Festival de Cannes de 2024. Seu novo filme foi recebido com 15 minutos de aplausos, mais que qualquer outro no evento francês do ano passado, e conquistou o Prêmio Especial do Júri e o FIPRESCI (da crítica internacional). Por estar banido no Irã, o drama foi inscrito pela Alemanha (coprodutor) como representante do país no Oscar de Melhor Filme Internacional.
O drama segue Iman, um juiz investigador no Tribunal Revolucionário em Teerã, que lida com desconfiança e paranoia enquanto protestos políticos se intensificam no país e sua arma desaparece misteriosamente. Suspeitando do envolvimento de sua esposa Najmeh e de suas filhas Rezvan e Sana, ele impõe medidas drásticas em casa, causando um aumento nas tensões. Gradualmente, normas sociais e regras da vida familiar começam a ser suspensas.
Rasoulof, conhecido por seu trabalho político e humanista, utiliza uma narrativa poética e silenciosa para evidenciar os dilemas morais enfrentados pelos personagens. A produção reafirma a habilidade do cineasta em criar histórias que provocam reflexões profundas sobre liberdade e repressão.
A ÚLTIMA SHOWGIRL | VOD*
Lançado em locação digital sem passar pelo cinema, o drama premiado marcou o renascimento da carreira de Pamela Anderson (“SOS Malibu/Baywatch”), que pelo desempenho foi indicada ao Globo de Ouro e ao SAG Awards, o troféu do Sindicato dos Atores. Ela interpreta Shelly, uma dançarina veterana de Las Vegas que, após o encerramento abrupto de seu espetáculo após 30 anos, precisa redefinir seu futuro. A narrativa explora os desafios enfrentados por Shelly ao lidar com o fim de uma era em sua carreira e as incertezas que surgem ao buscar um novo propósito. O elenco também inclui Jamie Lee Curtis (“Halloween”) como Annette, uma ex-dançarina e amiga de Shelly, e Dave Bautista (“Guardiões da Galáxia”) como Eddie, produtor do espetáculo.
Dirigido por Gia Coppola (“Palo Alto”), o filme conta com uma música inédita de Miley Cyrus, “Beautiful That Way”, que foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Canção Original.
SATURDAY NIGHT – A NOITE QUE MUDOU A COMÉDIA | VOD*
Outro lançado direto em digital, o filme dramatiza os 90 minutos frenéticos que antecederam a estreia do “Saturday Night Live” em 11 de outubro de 1975, marcando o nascimento de um dos programas mais longevos da TV americana. Com direção de Jason Reitman (“Ghostbusters: Mais Além”), a produção retrata os bastidores do estúdio da NBC em Nova York, onde o caos criativo e a tensão da direção da rede NBC ameaçavam derrubar o programa antes mesmo de sua primeira transmissão.
A narrativa acompanha Lorne Michaels, interpretado por Gabriel LaBelle (“Os Fabelmans”), jovem criador e produtor do “SNL”, enquanto tenta manter o controle da produção em tempo real. Entre conflitos com comediantes rebeldes, ajustes de última hora em esquetes e a resistência da direção da emissora, ele precisa provar que o novo formato de humor ao vivo tem potencial para se tornar uma referência — o que, de fato, viria a se concretizar com o passar das décadas.
O elenco interpreta nomes históricos do humor americano numa reconstituição da época. Cory Michael Smith (“Gotham”) vive Chevy Chase, Dylan O’Brien (“Maze Runner”) é Dan Aykroyd, Ella Hunt (“Dickinson”) interpreta Gilda Radner e Lamorne Morris (“New Girl”) assume o papel de Garrett Morris. Rachel Sennott (“Bottoms”) interpreta a roteirista Rosie Shuster, e Cooper Hoffman (“Licorice Pizza”) surge como Dick Ebersol, o executivo da NBC envolvido com a criação da faixa noturna de comédia.
O filme também conta com Emily Fairn (“Black Mirror”) como Laraine Newman, Matt Wood (“Sunset Park”) como John Belushi, Kim Matula (“Lutando pela Família”) como Jane Curtin, Nicholas Braun (“Succession”) como Andy Kaufman, Willem Dafoe (“Aquaman”) como David Tebet, Matthew Rhys (“The Americans”) como George Carlin, J.K. Simmons (“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”) como Milton Berle e Finn Wolfhard (“Stranger Things”) como um jovem assistente de estúdio.
O roteiro é assinado por Jason Reitman em parceria com Gil Kenan, repetindo a colaboração de seus trabalhos em “Ghostbusters: Mais Além” e “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo”.
>> QUINTA
SING SING | VOD*
O longa estrelado por Colman Domingo (“Euphoria”) retrata a jornada de homens encarcerados que descobrem no teatro uma forma de reabilitação. Baseado em fatos reais, o drama concorreu a três Oscars nas categorias de Melhor Ator, Roteiro e Música Original, mas não levou nenhum. Inspirado no programa real “Rehabilitation Through the Arts”, o filme apresenta Divine G, interpretado por Domingo, um homem condenado injustamente que, ao integrar um grupo teatral formado por outros detentos, reencontra um sentido para sua vida. No entanto, a chegada de um novo membro traz desconfiança ao ambiente, colocando à prova a união do grupo.
Com direção de Greg Kwedar (“Do Outro Lado da Fronteira”), “Sing Sing” se destaca não apenas pela interpretação de Colman Domingo, mas também por contar com um elenco composto por atores que já foram encarcerados – incluindo Clarence Maclin, que tem o segundo papel principal.
A iniciativa não é inédita. A premissa de “Sing Sing” lembra bastante “César Deve Morrer” (2012), dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani. A similaridade entre os dois filmes está no uso do teatro para humanizar e transformar prisioneiros, mas a produção italiana, vencedora do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2012, utilizou detentos que ainda cumpriam pena, num formato híbrido documental.
Apesar de passar em branco no Oscar, “Sing Sing” conquistou prêmios importantes, incluindo três troféus do Gotham Independent Film Awards e o Prêmio de Melhor Ator concedido pela Sociedade Nacional de Críticos de Cinema dos Estados Unidos, além de ter entrado na lista dos 10 melhores filmes de 2024 do American Film Institute (AFI).
BRIDGET JONES: LOUCA PELO GAROTO | VOD*
Renée Zellweger volta ao papel de Bridget Jones no quarto filme da franquia. Mas o tom é um pouco diferente das primeiras comédias românticas, pois ela enfrenta o luto pela perda de Mark Darcy (Colin Firth). O filme acompanha Bridget enquanto ela embarca em uma nova fase de sua vida, onde busca lidar com a perda, cuidar dos filhos e também encarar novas possibilidades amorosas.
A produção conta com o retorno de personagens icônicos, como Daniel Cleaver (Hugh Grant), o pai de Bridget (Jim Broadbent), a mãe de Bridget (Gemma Jones), Dr. Rawlings (Emma Thompson), Miranda (Sarah Solemani), Shazzer (Sally Phillips), Tom (James Callis) e Jude (Shirley Henderson), além de contar com novas adições, com destaque para os dois novos interesses românticos. Ela se interessa pelo Sr. Wallaker (Chiwetel Ejiofor), professor na escola de seus filhos e de perfil mais maduro, além de Roxster (Leo Woodall), um jovem com ar irreverente e imprevisível, que desperta seu interesse, apesar dos alertas.
A história é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por Helen Fielding. A autora também assina o roteiro, enquanto a direção está a cargo de Michael Morris (“Better Call Saul”), mais conhecido por seu trabalho em séries.
Os três filmes anteriores da franquia, iniciada no cinema em 2001, arrecadaram mais de US$ 760 milhões em bilheterias ao redor do mundo.
>> SEXTA
ROBÔ SELVAGEM | PRIME VIDEO
A nova animação da Dreamworks é o quarto sucesso assinado pelo cineasta Chris Sanders, de “Lilo & Stitch”, “Como Treinar o Seu Dragão” e “Os Croods”. O desenho atingiu 98% de aprovação crítica no Rotten Tomatoes, estreou em 1º lugar nas bilheterias e foi indicado ao Oscar de Melhor Animação.
O enredo, que junta elementos de “Wall-e”, da Pixar, e do clássico “Bambi”, da Disney, ao mesmo tempo em que se diferencia das referências de forma original e criativa, é uma adaptação do livro ilustrado de mesmo nome, escrito por Peter Brown. A história segue a jornada de um robô – unidade ROZZUM 7134, ou Roz para abreviar – que naufraga em uma ilha remota e deve aprender a se adaptar ao ambiente severo, construindo gradualmente relacionamentos com os animais na ilha, até se ver no papel de mãe adotiva de um ganso órfão. O visual é deslumbrante e o desenvolvimento cativa completamente.
A seleção de vozes originais é repleta de atores famosos, como Lupita Nyong’o (“Pantera Negra”), Pedro Pascal (“The Last of Us”), Catherine O’Hara (“Argylle: O Superespião”), Bill Nighy (“Viver”), Kit Connor (“Heartstopper”), Stephanie Hsu (“Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”), Mark Hamill (“Star Wars: A Ascensão Skywalker”), Matt Berry (“What We Do in the Shadows”) e Ving Rhames (“Missão: Impossível – Ajuste de Contas”). Por sua vez, a dublagem brasileira traz Elina de Souza (“Poliana Moça”) e Gabriel Leone (“Senna”) como as vozes dos personagens principais.
>> DOMINGO
AINDA ESTOU AQUI | GLOBOPLAY
O drama vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional conta a história de Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, que tenta descobrir o paradeiro de seu marido, Rubens Paiva, após ele ser levado de casa pela polícia em 1971, durante a ditadura no Brasil. Ao mesmo tempo, ela também busca manter os filhos protegidos da notícia do desaparecimento. A história real é baseada no livro do filho do casal, o escritor Marcelo Rubens Paiva.
A produção marca o retorno de Walter Salles ao cinema narrativo após 12 anos. O papel principal rendeu o Globo de Ouro para Fernanda Torres, com quem o diretor trabalhou em “Terra Estrangeira” (1995) e “O Primeiro Dia” (1998), e também há um epílogo com participação da mãe da atriz, Fernanda Montenegro, que foi indicada ao Oscar ao ser dirigida por Salles em “Central do Brasil” (1998). As duas compartilham a mesma personagem no filme e se igualaram após Fernanda Torres também conquistar uma indicação ao Oscar por seu desempenho. O elenco ainda destaca Selton Mello (“O Palhaço”) como Rubens Paiva.
Um dos filmes brasileiros mais premiados dos últimos tempos, o longa ainda recebeu o troféu de Melhor Roteiro pelo trabalho da dupla Murilo Hauser e Heitor Lorega no Festival de Veneza, onde foi recebido sob mais de 10 minutos de aplausos. Elogiadíssimo pela crítica internacional, atingiu impressionantes 97% de aprovação no Rotten Tomatoes, que faz uma média das críticas de cinema publicadas em inglês, e bateu recordes de arrecadação no cinema brasileiro e internacional – mais de US$ 27 milhões mundiais. Para coroar sua trajetória histórica, tornou-se a primeira produção brasileira indicada ao Oscar de Melhor Filme do ano.
Além das premiações, o fenômeno também teve impacto cultural, ao apresentar para as gerações mais novas o clima de repressão, arbitrariedade e autoritarismo da ditadura militar, servindo como lição de História para quem nasceu na ainda jovem democracia brasileira.
* Os lançamentos em VOD (Video on Demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Claro TV+, Loja Prime, Microsoft Store, Vivo Play e YouTube, entre outras que funcionam como locadoras digitais sem a necessidade de assinatura mensal.