No Throwback Thursday de hoje, mergulhamos em um clássico da comédia brasileira, “Matar ou Correr” (1954). Dirigido por Carlos Manga e estrelado pelos icônicos Oscarito e Grande Otelo, o filme é uma paródia inteligente do faroeste “High Noon” (1952), de Fred Zinnemann. Além de divertir, a produção subverte as convenções do gênero western, oferecendo uma crítica bem-humorada e sagaz à cultura do herói individualista norte-americano. Vamos explorar como essa chanchada brasileira conseguiu capturar o espírito do tempo e deixar sua marca na história do cinema nacional.
Sinopse
Em “Matar ou Correr”, somos transportados para a fictícia cidade de Citydown, uma paródia dos típicos cenários de faroeste. Dois vagabundos, Kid Bolha (Oscarito) e Cisco Kada (Grande Otelo), acidentalmente nocauteiam o temido bandido Jesse Gordon (José Lewgoy) e, surpreendentemente, são nomeados xerifes da cidade. A partir daí, a dupla inexperiente precisa enfrentar o bando de criminosos de Gordon, que promete voltar para se vingar.
Enredo
O filme começa com a chegada de Kid Bolha e Cisco Kada à cidade de Citydown, onde, por pura sorte, acabam capturando o temível Jesse Gordon. A população, em êxtase, decide promovê-los a xerifes, acreditando que finalmente estão livres do domínio do criminoso. No entanto, Jesse Gordon, com a ajuda do mafioso Bob (Restier), consegue escapar da prisão, espalhando o pânico novamente pela cidade.
Citydown, como toda boa cidade de faroeste, está repleta de personagens caricatos, mas ao contrário do que se espera, os novos xerifes são tudo menos valentes. Kid Bolha é um brincalhão medroso, enquanto Cisco Kada é atrapalhado e sem noção do que está fazendo. A trama se desenrola em meio a situações cômicas e mal-entendidos, culminando em um confronto final que desafia as expectativas do público sobre o que significa ser um herói.
Elenco
- Oscarito como Xerife Kid Bolha
- Oscarito, um dos maiores comediantes do cinema brasileiro, interpreta o atrapalhado Xerife Kid Bolha, personagem que adiciona humor e leveza ao enredo com suas trapalhadas e carisma inconfundível.
- Grande Otelo como Cisco Kada
- Grande Otelo, parceiro frequente de Oscarito, dá vida ao personagem Cisco Kada, o fiel escudeiro do xerife, com sua energia contagiante e timing cômico perfeito, garantindo boas risadas.
- José Lewgoy como Jesse Gordon
- Conhecido por seus papéis de vilão, José Lewgoy encarna Jesse Gordon, um antagonista que traz um toque de seriedade ao filme, contrastando com a comédia predominante.
- Julie Bardot como Bela, Vedete do Saloon
- Julie Bardot interpreta Bela, a sedutora vedete do saloon, que é o centro das atenções e mexe com os corações dos personagens masculinos do filme.
- Renato Restier como Bob, Dono do Saloon
- Renato Restier desempenha o papel de Bob, o dono do saloon, que é um ponto de encontro central no filme, onde muitas das cenas cômicas e mal-entendidos acontecem.
- John Herbert como Bil
- John Herbert, que mais tarde se tornaria um galã das novelas brasileiras, aparece como Bil, um personagem que adiciona uma pitada de charme e juventude ao elenco.
- Inalda de Carvalho como Hélen
- Inalda de Carvalho assume o papel de Hélen, trazendo uma performance sólida e complementando o elenco principal com sua atuação expressiva.
- Wilson Grey como Ed Ringo
- Wilson Grey, conhecido por seus papéis coadjuvantes, interpreta Ed Ringo, um personagem que adiciona mais uma camada de humor ao filme.
- Altair Villar como Roy Lawton
- Altair Villar dá vida a Roy Lawton, um personagem que enriquece o elenco com sua presença marcante.
- Wilson Vianna como Gringo
- Wilson Vianna, popular no rádio e cinema, interpreta Gringo, contribuindo com sua experiência e talento cômico para o filme.
- Suzy Kirby como Noiva abandonada por Humphrey
- Suzy Kirby faz uma participação como a noiva abandonada, uma personagem que adiciona um toque de drama cômico à narrativa.
- Walter Quinteiros
- Walter Quinteiros, embora em um papel menor, ajuda a compor o cenário humorístico do filme.
- Nelson Dantas
- Nelson Dantas, um ator que se destacou em vários filmes nacionais, participa como um dos personagens coadjuvantes, elevando a qualidade do elenco.
- Nicolau Guzzardi como Totó
- Nicolau Guzzardi interpreta Totó, um personagem que, apesar de secundário, garante momentos cômicos e inesquecíveis ao público.
Curiosidades
- Inspiração: “Matar ou Correr” é uma paródia direta de “High Noon” (1952), filme que Carlos Manga assistiu repetidas vezes para captar o tom e as referências que queria subverter na comédia brasileira.
- Produção: A cidade cenográfica de Citydown foi construída em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, sob o comando de Cajado Filho, que recriou com detalhes o típico cenário de faroeste americano.
- Oscarito e Grande Otelo: A dupla protagonista era já famosa nas chanchadas brasileiras, e “Matar ou Correr” acabou sendo um dos últimos filmes em que atuaram juntos.
- Beijo Final: Em uma cena inovadora para a época, o filme termina com um beijo gay entre os personagens de Oscarito e Grande Otelo, uma sátira ao relacionamento entre o xerife Will Kane e o bandido Frank Miller em “High Noon”.
- Música: A trilha sonora faz uma mistura de estilos, incorporando ritmos brasileiros à música típica dos faroestes, criando um clima que é ao mesmo tempo familiar e exótico.
Crítica Popular
O público brasileiro recebeu “Matar ou Correr” com entusiasmo. A comédia, carregada de humor físico e piadas que exploram o absurdo da situação, garantiu boas risadas e conquistou o coração dos espectadores. A química entre Oscarito e Grande Otelo foi amplamente elogiada, e as situações cômicas que envolvem os dois xerifes inexperientes foram consideradas hilárias.
Para muitos, o filme é uma lembrança nostálgica de uma época em que o cinema brasileiro produzia obras que, apesar das limitações técnicas e orçamentárias, conseguiam dialogar diretamente com o público, utilizando o humor como ferramenta crítica e social.
Crítica Profissional
Apesar do sucesso popular, a crítica especializada da época, frequentemente dominada por uma perspectiva elitista, foi mais reticente em elogiar o filme. O gênero da chanchada, ao qual “Matar ou Correr” pertence, era frequentemente desprezado por críticos que buscavam um cinema mais “refinado” e alinhado com as produções estrangeiras.
Robert Stam, por exemplo, observou que as paródias brasileiras, como as chanchadas, eram vistas como incivilizadas em comparação aos modelos de cinema europeu e norte-americano. No entanto, essa postura não impediu que o filme fosse reconhecido por sua genialidade em subverter os tropos do western e adaptar um gênero tipicamente americano para a realidade e o humor brasileiros.
Vale a Pena Assistir?
Se você é fã de comédias que misturam humor físico, paródia e crítica social, “Matar ou Correr” é uma excelente pedida. O filme é um marco do cinema brasileiro, não apenas por sua qualidade humorística, mas também pela forma como desconstrói o mito do herói ocidental, substituindo-o por figuras mais próximas do brasileiro comum.
Além disso, é uma oportunidade de ver em ação dois dos maiores comediantes do país, Oscarito e Grande Otelo, em performances que ainda hoje são referenciais no humor nacional.
Onde Assistir
“Matar ou Correr” está disponível gratuitamente no YouTube, permitindo que novas gerações possam descobrir ou redescobrir este clássico do cinema brasileiro. Também é possível encontrá-lo em coleções de DVDs que reúnem as grandes chanchadas da Atlântida Cinematográfica.
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Comentários Finais
“Matar ou Correr” é uma obra que, apesar de seu tom leve e humorístico, carrega uma crítica afiada à cultura do herói individualista e à idealização do faroeste americano. Carlos Manga, através de uma chanchada, conseguiu criar um filme que não apenas diverte, mas também faz pensar sobre as contradições e idiossincrasias da sociedade e da cultura brasileiras da década de 1950.
O filme, com seu humor irreverente e sua crítica social embutida, permanece relevante, mostrando que a comédia pode ser uma poderosa ferramenta de reflexão. Se você ainda não assistiu, aproveite a chance de ver um pedaço importante da história do cinema nacional.
Assista o Filme:
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