Com a saturação cada vez mais evidente dos filmes e séries de super-heróis, os produtores estão buscando novas fontes de inspiração para cativar o público. Uma dessas fontes, há muito tempo desejada por Hollywood, são os videogames. No entanto, até recentemente, encontrar o equilíbrio certo para adaptar esses mundos interativos para o cinema e a televisão tem sido um desafio. Felizmente, parece que esse desafio está sendo superado.
Divulgação/Prime Video
Nos últimos anos, testemunhamos um aumento significativo no número de adaptações de videogames para o audiovisual. Entre essas produções, algumas se destacam, como Sonic, Super Mario Bros., Arcane, Halo, Castlevania, e The Last of Us, que se tornou uma das melhores produções do gênero. Agora, podemos adicionar à lista mais um sucesso notável: Fallout, a série do Prime Video baseada nos aclamados jogos da Bethesda.
O que torna Fallout uma adaptação tão bem-sucedida é a sua capacidade de compreender e respeitar o vasto universo criado nos jogos originais. Sob a liderança dos roteiristas Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner, e com a produção de Jonathan Nolan e Lisa Joy, conhecidos por seu trabalho em Westworld, a série mergulha de cabeça no mundo pós-apocalíptico e cheio de nuances dos jogos. Ao mesmo tempo, introduz novos personagens e enredos que se encaixam perfeitamente nesse contexto, expandindo e enriquecendo a narrativa já estabelecida.
Um dos aspectos mais impressionantes da série é a sua capacidade de cativar tanto os fãs ávidos dos jogos quanto aqueles que estão apenas sendo apresentados ao universo de Fallout pela primeira vez. Os primeiros episódios servem como uma introdução cuidadosa, explicando os conceitos fundamentais do mundo pós-apocalíptico e estabelecendo os principais personagens e conflitos. Esta abordagem permite que os espectadores se sintam imediatamente imersos na história, independentemente de sua familiaridade prévia com os jogos.
No centro da trama está Lucy, interpretada com brilhantismo por Ella Purnell, uma jovem habitante da Vault 33, um abrigo subterrâneo projetado para sobreviver à devastação nuclear. Quando seu pai Henry (Kyle MacLachlan) é sequestrado por um misterioso grupo de invasores, liderados pela enigmática Moldaver (Sarita Choudhury), Lucy é forçada a deixar a segurança da Vault e enfrentar os perigos do mundo exterior.
Ella Purnell entrega uma interpretação cativante de Lucy, transmitindo ao público seu carisma, sua inocência e sua determinação em explorar a superfície radioativa. À medida que ela interage com personagens como Ghoul (interpretado por Walton Goggins), cujo passado está entrelaçado com os horrores do mundo pós-apocalíptico, a profundidade da narrativa se revela.
Além de Lucy, outros personagens igualmente fascinantes povoam o mundo de Fallout. Walton Goggins brilha no papel de Ghoul, um habitante das terras devastadas pela radiação, cujo passado sombrio o torna uma figura intrigante e complexa. Enquanto isso, Aaron Moten dá vida a Maximus, um jovem escudeiro da Irmandade do Aço, cujas ambições colidem com a realidade brutal do mundo pós-apocalíptico. Porém, os episódios que focam em sua história são os menos interessantes. A narrativa ganha força quando ele se depara com outros personagens. Contudo, senti falta de mais interações com a Irmandade do Aço e suas motivações.
Além de sua rica narrativa e personagens envolventes, Fallout também se destaca por sua atenção aos detalhes e referências aos jogos originais. Desde a recriação meticulosa de cenários familiares até a inclusão de personagens icônicos como Dogmeat, o pastor alemão companheiro dos jogadores em Fallout 4, a série presta homenagem à rica história e mitologia dos jogos de uma maneira que certamente agradará aos fãs mais dedicados.
O aspecto visual da série é verdadeiramente deslumbrante. Os cenários, uma mistura de tecnologia futurista dos anos 50 e 60 com os destroços da devastação nuclear, são representados de forma magistral. Cada localidade, desde as cidades em ruínas até os vastos desertos radioativos, é meticulosamente projetada para transmitir a sensação de desolação e desespero que permeia esse mundo. A fotografia é um elemento fundamental, capturando não apenas a beleza sombria desses cenários, mas também a solidão e a melancolia que os habitantes deste mundo desolado enfrentam diariamente.
O que também eleva a experiência audiovisual de Fallout para outro nível é sua trilha sonora. A seleção cuidadosa de canções clássicas dos anos 50 e 60 é uma obra de arte por si só. A música não apenas adiciona uma camada extra de autenticidade ao mundo retro-futurista da série, mas também estabelece uma conexão emocional com o público, transportando-os para uma época passada e evocando sentimentos de nostalgia e saudade. Cada canção escolhida é como uma cápsula do tempo, resgatando melodias e letras que muitas vezes são esquecidas pela cultura popular contemporânea, mas que merecem ser apreciadas e celebradas. Ao longo dos episódios, a trilha sonora se torna não apenas um acompanhamento musical, mas uma parte integrante da narrativa, ajudando a estabelecer o tom e a atmosfera de cada cena. Desde as melodias animadas que embalam os momentos de ação até as baladas melancólicas que ecoam nos momentos de reflexão e contemplação, cada música é escolhida com precisão para complementar e enriquecer a experiência do espectador.
A decisão do Prime Video de disponibilizar todos os oito episódios da primeira temporada de uma só vez não foi a melhor decisão. Embora seja tentador maratonar a série, ela talvez funcionasse melhor no formato semanal, incentivando discussões e análises aprofundadas a cada episódio.
Fallout se destaca como uma adaptação excepcional de um jogo, capturando a essência do universo e expandindo-o de maneira cativante. Para os fãs dos jogos, a série é uma celebração do que torna Fallout tão especial, enquanto para os não iniciados, é uma porta de entrada para um mundo pós-apocalíptico cheio de aventura e perigo. Em suma, é uma experiência que certamente deixará os espectadores ansiosos por mais, seja na tela do console ou na tela da TV.
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