

No universo das séries de suspense, nem sempre o que se vê é o que parece. Quando uma história se apresenta com personagens dúbios, revelações graduais e investigações cada vez mais perigosas, o desfecho se torna uma espécie de terreno movediço onde cada detalhe importa.
Ambientada na isolada e enigmática Bariloche, na Patagônia, Cilada propõe um jogo de pistas e falsas verdades em torno do desaparecimento de uma adolescente. À medida que a trama se desenrola, o espectador mergulha numa rede de manipulações, interesses ocultos e relações despedaçadas. Mas é no último episódio que tudo se revela — ou quase tudo.


A ruína de um inocente
A trama é protagonizada por Ema Garay, jornalista conhecida por expor criminosos em seu programa digital. Ao iniciar uma investigação sobre grooming virtual, ela arma uma operação para desmascarar um predador de menores. O suspeito é um perfil chamado FinalGame05, com quem Ema interage fingindo ser uma adolescente. O plano, no entanto, toma um rumo inesperado quando Leo Mercer, assistente social respeitado na comunidade, aparece no local combinado.
Confuso com a armadilha e sem conseguir se explicar, Leo foge. Ema o denuncia publicamente, e a opinião pública rapidamente o condena. A essa altura, uma nova tragédia ocorre: Martina Schulz, adolescente envolvida em outra festa local, desaparece sem deixar pistas. Leo, já sendo caçado como pedófilo, se torna o principal suspeito no novo caso.
A situação se agrava quando Facundo, pai de outra vítima e antigo amigo de Leo, o encontra e, em um momento de fúria, atira nele. Leo cai no rio e desaparece. Seu corpo nunca é encontrado, e a cidade assume sua morte como fato consumado. No entanto, a ausência de evidências e o silêncio das águas alimentam a dúvida, especialmente em Ema.


Uma morte encoberta e uma verdade ignorada
Pouco tempo após os acontecimentos, Martina, uma outra jovem, é encontrada morta, e a culpa recai, mais uma vez, sobre Leo. Um celular da garota aparece entre os pertences dele, aparentemente confirmando sua responsabilidade. No entanto, a investigação de Ema revela que a adolescente havia se envolvido com Fran Briguel, empresário influente que tentou violentá-la em um hotel em Buenos Aires.
Embora tenha escapado, Martina foi aconselhada por Marcos Brown, associado de Fran, a não denunciá-lo. Mais tarde, em Bariloche, ela se relaciona com Armando, jovem protegido de Leo. Na noite do desaparecimento, os dois se desentendem após a revelação das acusações contra Leo, e Martina sofre uma queda fatal. Juliana, mãe de Armando, acoberta o crime e planta o celular de Martina para incriminar Leo.
Mesmo com as descobertas, Ema enfrenta resistência. Juliana tenta convencê-la a não seguir adiante, mas Armando decide assumir a responsabilidade. Em um raro momento de honestidade, ele confessa o acidente e se entrega à polícia. Assim, Martina finalmente tem sua história esclarecida, e a culpa de Leo, pelo menos nesse crime, é oficialmente descartada.


A conspiração por trás de tudo
Aos poucos, Ema começa a desconfiar que as tragédias que cercam Leo não foram mera coincidência. Ela descobre que a fundação administrada por ele possuía terrenos altamente cobiçados por grandes famílias da região. Se um dos diretores fosse acusado de crime, os bens seriam redistribuídos — o que abriria caminho para disputas de herança e venda.
É nesse contexto que Marcos Brown, amigo próximo de Leo, emerge como verdadeiro vilão. Com dívidas e reputação arruinada, ele orquestrou todo o plano para incriminar seu colega, usando até mesmo Martina como peça-chave. Seu objetivo era tomar posse das terras da fundação, custasse o que custasse.
Quando Ema o confronta com as provas, Marcos reage com violência, tentando afogá-la no lago. A jornalista consegue escapar e transmitir tudo ao vivo em suas redes, expondo o esquema por trás da queda de Leo. Sem saída, Marcos foge e, consumido pela culpa e pelo medo de encarar sua família, tira a própria vida em um acidente de carro.


Um encerramento com perguntas sem resposta
Mesmo após a resolução do caso de Martina e a revelação dos verdadeiros culpados, a sombra sobre o paradeiro de Leo Mercer permanece. O corpo nunca foi encontrado, e meses depois, Ema ainda espera por alguma confirmação de sua morte. Em uma das cenas finais, a série mostra Leo cavalgando em um deserto, cercado por desconhecidos.
Apesar de Facundo acreditar que Leo estaria morto se não tivesse voltado para perdoá-lo, a cena sugere o contrário. Um ferimento visível em seu pescoço parece confirmar sua sobrevivência após o disparo. Porém, Leo não retorna a Bariloche, tampouco busca justiça. Ele prefere o exílio, um afastamento definitivo da cidade que o condenou.
Esse encerramento reforça a natureza instável da narrativa. Leo pode estar vivo, mas opta por desaparecer. Já Ema, mesmo após tudo, hesita em fechar completamente a história. Sua última aparição, às margens do lago, indica que, para ela, o caso ainda não terminou.
No fim, a protagonista se depara com um dilema ético. Embora tenha descoberto os crimes de Fran Briguel, ela escolhe não publicar a reportagem. Após ameaças diretas a seu filho, e ciente de que sua obsessão pelo trabalho a afastou da maternidade, Ema decide passar o bastão. Vicky, sua parceira na redação, assume a responsabilidade de continuar investigando os poderosos de Bariloche.
Lançada como uma minissérie, Cilada encerra sua temporada com um ciclo fechado e vários pontos em aberto. Ainda não é possível afirmar se a Netflix irá transformá-la em uma série com temporadas recorrentes, mas existe espaço narrativo para isso.
Cilada está disponível na Netflix.
O post Cilada: Explicamos o final da 1ª temporada da série da Netflix apareceu primeiro em Observatório do Cinema.