Diretor está na prisão
O diretor Carl Erik Rinsch, responsável pelo filme “47 Ronins”, foi preso nesta terça-feira (19/3) em Los Angeles sob acusações de fraude e lavagem de dinheiro. Investigadores federais dos Estados Unidos afirmam que ele desviou mais de US$ 11 milhões da Netflix, destinados à produção da série sci-fi “White Horse”, que nunca foi concluída.
A denúncia formal apresentada pelo Departamento de Justiça inclui sete acusações contra Rinsch, que pode ser condenado a mais de 60 anos de prisão caso seja considerado culpado por tudo. O FBI classificou o caso como uma fraude milionária contra uma das principais plataformas de streaming do mundo.
Keanu Reeves e as filmagens em São Paulo
O projeto começou a ganhar forma em abril de 2019, quando Keanu Reeves veio a São Paulo para negociar as gravações de “White Horse” na cidade. O ator participou de reuniões com a prefeitura e o governo estadual para discutir incentivos fiscais e apoio logístico. Ele se encontrou com o então prefeito Bruno Covas e representantes da SPCine, que intermediaram a negociação com a São Paulo Film Commission.
Reeves, que já havia trabalhado com Rinsch em “47 Ronins”, entrou no projeto como produtor e investidor, ajudando a levantar recursos para a produção. A série foi anunciada como uma ambiciosa ficção científica, e São Paulo seria um dos cenários centrais. No entanto, desde o início das gravações, a produção enfrentou problemas. As filmagens começaram na Avenida Paulista com um elenco que incluía Bruna Marquezine. Mas relatos apontavam que Rinsch mantinha uma postura agressiva no set, gritando com a equipe e criando um ambiente de trabalho tóxico.
Desvios milionários e colapso da produção
Mesmo com dificuldades nos bastidores, o projeto chamou a atenção da Netflix, que comprou os direitos de “White Horse” por US$ 61,2 milhões após uma disputa com a Amazon. O contrato concedia a Rinsch controle criativo total, algo incomum para diretores.
Em seguida, a produção foi expandida para Montevidéu, no Uruguai, além de locações na Hungria e Romênia, mas os atrasos continuaram e os custos aumentaram. Durante as gravações na Romênia, uma das atrizes foi hospitalizada com hipotermia após rodar cenas ao ar livre em temperaturas congelantes. A situação nos bastidores se agravou com relatos de comportamentos erráticos de Rinsch, que chegou a acusar sua esposa e coprodutora, Gabriela Rosés Bentancor, de tramar seu assassinato.
Em meio ao caos, o diretor queimou US$ 44 milhões da Netflix sem entregar um único episódio finalizado. Em 2020, ele pediu mais US$ 11 milhões à plataforma, alegando que os recursos eram essenciais para concluir a produção. A empresa liberou o dinheiro, mas Rinsch desviou os fundos para especulação no mercado financeiro. Parte do valor foi perdida em investimentos arriscados em ações e criptomoedas, enquanto o restante foi gasto em compras extravagantes.
Gastos em luxo e derrota judicial
De acordo com a investigação, o diretor usou os milhões recebidos da Netflix para pagar diárias no hotel Four Seasons, advogados de um processo contra a própria plataforma e sua separação, além de adquirir cinco Rolls-Royces, um Ferrari, relógios de luxo e móveis caríssimos. Entre as compras registradas, estão duas camas no valor de US$ 638 mil e roupas de grife.
Ao perceber que a produção não avançava, a Netflix suspendeu os repasses e abriu um processo arbitral contra Rinsch, exigindo a devolução do dinheiro investido. O diretor respondeu processando a plataforma e pedindo mais US$ 14 milhões. No entanto, ele perdeu a disputa, sendo condenado a restituir US$ 12 milhões à empresa. Como não pagou a dívida, o caso seguiu para investigação criminal.
Prisão pelo FBI
Nesta terça-feira (19/3), agentes do FBI prenderam Rinsch em Los Angeles. Ele enfrenta acusações formais de fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e transações ilegais, podendo ser condenado a até 60 anos de prisão. O Departamento de Justiça dos EUA classificou o caso como um dos maiores golpes financeiros já sofridos por uma plataforma de streaming.
A Netflix, que contabilizou um prejuízo superior a US$ 55 milhões com o projeto, não se pronunciou sobre a prisão do diretor.