Ritmo ágil e estrutura inovadora
A 2ª temporada de “Solo Leveling” chegou ao fim neste sábado (29/3), consolidando a adaptação do webtoon sul-coreano de Chugong como um dos maiores fenômenos recentes da animação. Produzida pelo estúdio A-1 Pictures, a série se destacou por adotar uma estrutura narrativa diferente da tradição dos animes japoneses, principalmente no ritmo das batalhas e na forma de conduzir o suspense entre episódios.
Enquanto outros shonens estendem confrontos por arcos inteiros, “Solo Leveling” resolveu condensar as batalhas em episódios pontuais, raramente se prolongando além do segundo capítulo. Com isso, cada luta se torna mais intensa e relevante para o avanço da história. O encerramento de episódios com cliffhangers dramáticos também elevou o engajamento do público, que rapidamente transformou a série em sucesso global de audiência. A estrutura permite que todo episódio contenha uma reviravolta de grande impacto emocional, ajudando a fazer da série uma das mais comentadas das redes sociais.
Comparações e diferenciais
Durante os episódios recentes, o arco da Ilha Jeju — que apresenta monstros formigas com comportamento inteligente — chegou a ser comparado com a clássica saga das Formigas Quimera de “Hunter x Hunter”. Apesar da semelhança superficial, “Solo Leveling” se diferenciou ao manter o foco quase exclusivo no crescimento do protagonista, Sung Jinwoo, sem transformar os inimigos em núcleos paralelos longos ou filosóficos.
A série também evitou o uso excessivo de flashbacks ou desvios narrativos, priorizando o dinamismo da trama e valorizando o mistério sobre o sistema que transformou Jinwoo no único “Monarca das Sombras”.
Estética visual apurada
O design da animação é um capítulo à parte. Com uma ambientação urbana sombria, “Solo Leveling” impressiona pela capacidade de evocar clima de desencanto, além de se destacar pela qualidade de seus traços e pela maneira como as sequências de combate são retratadas. Durante as lutas, os movimentos fluidos e a transformação dos traços em formas abstratas remetem à técnicas não vistas desde “Neon Genesis Evangelion”, resgatando uma característica que havia se tornado rara nos animes contemporâneos. Essa escolha estilística intensifica a experiência do espectador, conferindo profundidade e dinamismo às cenas de ação.
Abordagem dramática sem infantilização sensual
A produção também segue uma abordagem mais dramática que as adaptações dos mangás japoneses, com escassez de humor e ausência de conteúdo sexualizado. Embora haja uma tensão subjacente entre Jinwoo e a caçadora Cha Hae-In, a série opta por desenvolver essa relação de forma sutil e gradual. Ao longo das duas temporadas, não foram apresentadas cenas explícitas de romance, como beijos, nem mesmo piadas de conteúdo sexual, que costumam refletir uma tendência de infantilização dos animes, destacando “Solo Leveling” como uma produção focada totalmente na evolução dos personagens.
aliada a uma estética de jogo digital, trouxe frescor ao gênero de ação, ampliando o alcance da obra entre públicos que consomem tanto animes quanto webtoons.
Construção de mundo complexa
Apesar do primor da 2ª temporada, a série demorou para decolar. Um ponto criticado por parte da audiência nas primeiras semanas foi a introdução do universo, especialmente a falta de contextualização clara sobre o sistema de classificação dos caçadores. Termos como Rank E ou Rank S surgiram sem explicações detalhadas, o que ainda confundia espectadores não familiarizados com a lógica de RPGs. Com o tempo, essa barreira foi sendo superada pela força visual, pelo desenvolvimento progressivo do protagonista e pela crescente clarificação da mitologia, que os novos episódios tornaram mais familiar e acessível.
O universo de “Solo Leveling” é baseado na existência de portais que ligam o mundo real a dungeons infestadas de criaturas letais. Os caçadores — humanos com poderes — são classificados de E a S de acordo com sua força. Jinwoo começa no fundo dessa escala, como o “mais fraco da humanidade”, até descobrir habilidades que o colocam em rota direta com entidades sobrenaturais e um destino maior. A transformação também é física. Ele deixa de ser um moleque fracote para se tornar um homem carismático e imponente.
Mistério que impulsiona a saga
Na 2ª temporada, Jinwoo finalmente se torna Rank S, mas não para nisso. Ele explode a tabela de classificações devido a uma característica exclusiva: enquanto os demais são presos a um rankeamento fixo, ele é o único caçador capaz de aumentar sua pontuação sem limites conforme derrota ameaças, graças a um sistema similar a um videogame, que só ele tem acesso.
Esse sistema misterioso funciona como uma segunda consciência que o guia e recompensa por tarefas completadas, oferecendo missões diárias, upgrades de atributos e acesso a habilidades únicas — como a capacidade de invocar sombras de inimigos derrotados para lutar por ele. A origem desse “sistema” permanece envolta em segredo durante boa parte da série, alimentando teorias sobre manipulações de forças superiores e uma guerra invisível entre entidades conhecidas como Monarcas e Governantes. A sensação constante de que Jinwoo está sendo observado e testado amplia o suspense e a complexidade da narrativa, diferenciando “Solo Leveling” de outras histórias centradas em superação individual.
Vale observar que as entidades conhecidas como Monarcas e Governantes são elementos centrais na narrativa do manhwa, servindo como forças opostas em uma guerra ancestral. No entanto, até o momento, a adaptação em anime não introduziu esses conceitos, concentrando-se principalmente no desenvolvimento de Sung Jinwoo e em sua ascensão como caçador. Portanto, esse segredo só será abordado nos próximos capítulos, embora as últimas cenas do season finale tenham dado pistas do que vêm por aí.
Produção e impacto na cena pop
A adaptação japonesa conta com direção de Shunsuke Nakashige (“Sword Art Online”), trilha de Hiroyuki Sawano (“Attack on Titan”) e produção da A-1 Pictures, estúdio conhecido por sucessos como o isekai icônico “Sword Art Online” e “86”. Além disso, as músicas de sua trilha sonora impactaram a cena pop.
O tema de abertura da 2ª temporada, “ReawakeR”, colaboração épica entre a rainha dos animes LiSA e Felix, membro do grupo de K-pop Stray Kids, virou um fenômeno pop/nu metal, que rapidamente ganhou popularidade, figurando entre as músicas mais tocadas em playlists dedicadas a animes e viralizando em plataformas como o TikTok. O videoclipe oficial também acumulou milhões de visualizações, evidenciando o impacto da colaboração entre artistas japoneses e coreanos na indústria musical.
Com a 3ª temporada já confirmada, “Solo Leveling” entra para o rol das franquias que redefinem expectativas dentro da indústria, especialmente por mostrar que é possível contar histórias de superação e ascensão com impacto emocional e apelo visual sem cair nos vícios do gênero.